terça-feira, 7 de outubro de 2008

RESUMO DO ASSASINATO NA FLORESTA

Ivo Cotoxó era um repórter policial que trabalhava na Tribuna da Pátria de São Paulo, tendo uma relação muito hostil com seu chefe Maurício Benjamin.Sua vida mudou quando o chefe lhe deu uma missão de ir até uma pequena cidade chamada Benjamin Constant na Amazônia para investigar suposta morte de uma simples seringueira chamada Raimunda.
A princípio Ivo Cotoxó não gostou da idéia, mas após investigação acabou descobrindo que Raimunda fora assasinada e que aquele crime envolvia questões sociais que por final acabaram mudando a vida de muito gente.

'' Enfim, é uma imprensa que, em sua maioria, vê as árvores mas não enxerga a floresta. ''

Mesmo sem esconder dados sobre o desmatamento da Amazônia, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) tem conseguido obter manchetes menos constrangedoras e, em muitos casos, até mesmo confortáveis para o governo. Em busca de fatos novos para os títulos e lides (primeiros parágrafos) de suas reportagens, grande parte da imprensa têm passado uma imagem otimista e que não corresponde à realidade da extensão da devastação. Várias matérias publicadas repetem o mesmo engano que vem sendo cometido há meses, que consiste em se basear nos dados mensais do sistema de detecção de desmatamentos em tempo real por satélites, que são úteis para orientar ações de fiscalização, mas não mostram a extensão total da devastação, que só é possível por meio da análise de períodos mais amplos.

Desde o final de 2007, quando foi constatada a tendência de grande aumento da taxa anual de desmatamento da Floresta Amazônica brasileira para o período de 2007 a 2008, a atenção da imprensa e de ONGs passou a se concentrar nos índices mensais do sistema Deter (Desmatamento em Tempo Real). Esse processo teve um efeito inegavelmente positivo, pois levou o Governo Federal a melhorar e a intensificar as ações de fiscalização. No entanto, esses dados não são adequados para determinar a extensão total da devastação, pois muitas das imagens de satélites são prejudicadas por nuvens. As avaliações mais precisas se baseiam em períodos anuais e são feitas pelo sistema Prodes (Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite). Os dois projetos são desenvolvidos pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de São José dos Campos (SP), que é vinculado ao MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia).

Embora o próprio MMA tenha reiteradamente esclarecido o caráter parcial dos dados, as informações de seus comunicados são hierarquizadas de modo a enfatizar as reduções nas taxas de desmatamento apresentados mensalmente pelo Deter. Em outras, palavras, ninguém pode acusar o ministro Carlos Minc de estar escondendo dados, principalmente em suas entrevistas coletivas. Quem está bobeando é grande parte da imprensa, que tem avançado sem discernimento sobre a isca que lhe é oferecida.


sábado, 4 de outubro de 2008

POLUIÇÃO DO AR



A Amazônia que conhecemos hoje é o resultado da implantação da política de integração nacional que a definiu como fronteira econômica. Assim, desde os anos 60 do século XX, a região denominada de Amazônia Legal, para fins de planejamento, vem sendo alvo de maciças intervenções sob o comando do Estado Nacional Brasileiro.
∗ Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.
objetivo era atender não só novas demandas do mercado internacional, como as relacionadas à modernização econômica do Sul-Sudeste do país. Isto gerou mudanças profundas nos padrões de exploração extrativa e de organização espacial da produção regional, historicamente ancorada na economia primário-exportadora da borracha, e no trabalho familiar e artesanal.
Tais mudanças tiveram grandes repercussões na frágil rede urbana existente até os anos 50, polarizada por Belém, e, secundariamente, por Manaus e São Luís. Estas, além de cidades-capitais das três mais importantes unidades federadas da região (Pará, Amazonas e Maranhão), abrigavam os portos por onde era exportada a produção regional.
Uma das principais repercussões ocorreu a partir dos núcleos urbanos das demais cidades-capitais das unidades federadas que compõe a Amazônia Legal, a saber: Cuiabá, capital de Mato Grosso; Porto Velho, capital de Rondônia; Rio Branco, capital do Acre; Boa Vista, capital de Roraima; Macapá, capital do Amapá; e Palmas, capital de Tocantins. Ao lado das anteriores, elas passaram a ser os nós de uma rede de ação pública-privada, ou seja, pontos de encontro privilegiados entre interesses nacionais-internacionais e regionais-locais. Em outras palavras, segundo Steinberger [1] revela o papel dos núcleos urbanos como pontos de apoio para agentes e atores que exploram atividades ligadas ao setor primário da economia amazônica.
Atualmente, as ligações externas das cidades-capitais, em termos políticos, se fazem diretamente com Brasília, sede do Estado Nacional e, em termos econômicos, com o Sul-Sudeste e com várias partes do mundo. Por outro lado, suas ligações internas estão associadas à influência que exercem sobre os núcleos urbanos menores e o mundo rural que os envolve. Isso sugere que, em prol de um realinhamento nacional-internacional, houve uma fragmentação da rede urbana intra-regional em várias sub-redes.
É incontestável que este realinhamento regional permitiu uma participação mais efetiva na divisão do trabalho, devido à ampliação do volume de bens produzidos e à diversificação da sua estrutura produtiva. Entretanto, também é incontestável que gerou um maior "apetite" explorador e, consequentemente, uma pressão mais intensa sobre os recursos naturais da região, sabidamente portadora de ecossistemas com uma rica biodiversidade. Além disso, pouco contribuiu para melhorar as condições de vida de sua população. Os vazamentos de renda, a presença da pobreza urbana e a deterioração da vida rural atestam tal fato.
Neste contexto, um dos traços mais significativos do presente padrão de exploração dos recursos naturais é o surgimento de novas relações entre o mundo rural e o mundo urbano. Estas se materializam por meio de novas territorialidades, que assumem configurações desejáveis e indesejáveis. Dentre as indesejáveis está a poluição urbana do ar resultante do desmatamento e posteriores queimadas das florestas. Uma análise do processo de urbanização e das atividades econômicas que geram essas territorialidades urbano-rurais é fundamental para se compreender onde e como elas se manifestam.

SERINGUEIROS


Depois da Segunda Guerra Mundial a produção Brasileira de borracha entrou em crise de novo. Apesar do preço baixo, a borracha permaneceu o principal produto de exportação do Acre. O que tinha mudado era a estrutura econômica. Depois que a maioria dos seringalistas tinham falido muitos dos trabalhadores ficaram na área do seringal e se tornaram seringueiros posseiros, inclusive podendo cultivar a terra (que antes era interdito para eles), vendendo a borracha para revendedores ambulantes chamados "Regatões" ou "Mareteiros". Estes Mareteiros enganaram mto o suieringueiro e mesmo como os antigos seringalistas mantiveram ele numa dependência econômica. Regularmente o seringueiro anda nas trilhas que passam pelas seringas, em cujos troncos ele aplica cortes diagonais. Assim o látex vai saindo e escorrendo num pote amarrado na árvore e pode ser recolhido na próxima volta. Este látex liquido antigamente foi aplicado em varas, os quais eram giradas na fumaça em cima da fogueira. Com o calor o látex ficava solido e com a fumaça ficava resistente contra fungos. Assim se formavam fardos de borracha de mais ou menos meio metro de diâmetro. Esta técnica hoje em dia quase não se usa mais. Hoje existem outras formas de processamento do látex sem fumaça. A forma de subsistência como seringueiro é até hoje a mais comum entre os moradores da floresta. Os seringueiros de hoje, sendo a maioria índios ou mestiços, chamados "caboclos", não extraem só o Látex, mas também outros produtos da floresta, principalmente a Castanha do Brasil. Eles também exercem agricultura e caça para o próprio uso em pequena extensão. As casas dos seringueiros são simples, cobertas de palha. Muitas vezes onde eles moram não tem escolas nem assistência medica. O usufruto sustentável da floresta pluvial pelos seringueiros é uma forma de convivência harmoniosa e ecologicamente consistente de homem e floresta pluvial. A situação ecológica da floresta amazônica é inseparavelmente ligada á situação econômica e social dos seringueiros.

CHICO MENDES


'' No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade. ''


O HOMEM DA FLORESTA*


Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, tinha completado 44 anos no dia 15 de dezembro de 1988, uma semana antes de ter sido assassinado. Acreano, nascido no seringal Porto Rico, em Xapurí, se tornou seringueiro ainda criança, acompanhando seu pai.
Sua vida de líder sindical inicia com a fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, em 1975, quando é escolhido para ser secretário geral. Em 1976, participa ativamente das lutas dos seringueiros para impedir desmatamentos através dos "empates". Organiza também várias ações em defesa da posse da terra. Em 1977, participa da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, além de ter sido eleito vereador pelo MDB à Câmara Municipal local. Neste mesmo ano, Chico Mendes sofre as primeiras ameaças de morte por parte dos fazendeiros, ao mesmo tempo que começa a enfrentar vários problemas cem seu próprio partido, o MDB, que não era solidário às suas lutas.
Em 1979, Chico Mendes transforma a Câmara Municipal num grande foro de debates entre lideranças sindicais, populares e religiosas, sendo por isso acusado de subversão e submetido a duros interrogatórios. Em dezembro, do mesmo ano Chico é torturado secretamente. Sem ter apoio, não tem condições de denunciar o fato.
Com o surgimento do Partido dos Trabalhadores, Chico transforma-se num de seus fundadores e dirigentes no Acre, participando de comícios na região juntamente com Lula. Ainda em 1980, Chico Mendes é enquadrado na Lei de Segurança Nacional, a pedido dos fazendeiros da região que procuravam envolvê-lo com o assassinato de um capataz de fazenda que poderia estar envolvido no assassinato de Wilson Pinheiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasiléia.
No ano seguinte, Chico Mendes assume a direção do Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente até o momento de sua morte. Nesse mesmo ano, Chico é acusado de incitar posseiros à violência. Sendo julgado no Tribunal Militar de Manaus, consegue livrar-se da prisão
preventiva.
Nas eleições de novembro de 1982, Chico Mendes candidata-se a deputado estadual pelo PT não conseguindo eleger-se. Dois anos mais tarde é levado novamente a julgamento, sendo absolvido por falta de provas.
Em outubro de 1985, lidera o 1o Encontro Nacional dos Seringueiros, quando é criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), do qual torna-se a principal referência. A partir de então, a luta dos seringueiros, sob a liderança de Chico Mendes, começa a ganhar repercussão nacional e internacional, principalmente com o surgimento da proposta de "União dos Povos da Floresta", que busca unir os interesses de índios e seringueiros em defesa da floresta amazônica propondo ainda a criação de reservas extrativistas que preservam as áreas indígenas, a própria floresta, ao mesmo tempo em que garantem a reforma agrária desejada pelos seringueiros. A partir do 2o Encontro Nacional dos Seringueiros, marcado para março de 1989, Chico deveria assumir a presidência do CNS.
Em 1987, Chico Mendes recebe a visita de alguns membros da ONU, em Xapuri, onde puderam ver de perto a devastação da floresta e a expulsão dos seringueiros causadas por projetos financiados por bancos internacionais. Dois meses depois, Chico Mendes levava estas denúncias ao Senado norte-americano e à reunião de um banco financiador, o BID. Trinta dias depois, os financiamentos aos projetos devastadores são suspensos e Chico é acusado por fazendeiros e políticos de prejudicar o "progresso" do Estado do Acre. Meses depois, Chico Mendes começa a receber vários prêmios e reconhecimentos, nacionais e internacionais, como uma das pessoas que mais se destacaram naquele ano em defesa da ecologia, como por exemplo o prêmio "Global 500", oferecido pela própria ONU.
Durante o ano de 1988, Chico Mendes, cada vez mais ameaçado e perseguido, principalmente por ações organizadas após a instalação da UDR no Acre, continua sua luta percorrendo várias regiões do Brasil, participando de seminários, palestras e congressos, com o objetivo de denunciar a ação predatória contra a floresta e as ações violentas dos fazendeiros da região contra os trabalhadores de Xapuri. Por outro lado, Chico participa da realização de um grande sonho: a implantação das primeiras reservas extrativistas criadas no Estado do Acre, além de conseguir a desapropriação do Seringal Cachoeira, de Darly Alves da Silva, em Xapuri.
A partir daí, agravam-se as ameaças de morte, como o próprio Chico chegou a denunciar várias vezes, ao mesmo tempo em que deixava claro para as autoridades policiais e governamentais que corria risco de vida e que necessitava de garantias, chegando inclusive a apontar os nomes de seus prováveis assassinos.
No 3o Congresso Nacional da CUT, Chico Mendes volta a denunciar esta situação, juntamente com a de vários outros trabalhadores rurais de todas a partes do país. A situação é a mesma, a violência criminosa tem a mão da UDR de norte a sul do Brasil. No mesmo Concut, Chico Mendes defende a tese apresentada pelo Sindicato de Xapuri, "Em Defesa dos Povos da Floresta", aprovada por aclamação por cerca de 6 mil delegados presentes. Ao final do Congresso, ele é eleito suplente da direcção nacional da CUT.
Em 22 de Dezembro de 1988, Chico Mendes é assassinado na porta de sua casa. Chico era casado com lIzamar Mendes e deixa dois filhos, Sandino, de 2 anos, e Elenira, 4.

*Publicado na Revista "Chico Mendes" pelo STR de Xapuri, CNS e CUT em janeiro de 1989