sábado, 4 de outubro de 2008

POLUIÇÃO DO AR



A Amazônia que conhecemos hoje é o resultado da implantação da política de integração nacional que a definiu como fronteira econômica. Assim, desde os anos 60 do século XX, a região denominada de Amazônia Legal, para fins de planejamento, vem sendo alvo de maciças intervenções sob o comando do Estado Nacional Brasileiro.
∗ Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.
objetivo era atender não só novas demandas do mercado internacional, como as relacionadas à modernização econômica do Sul-Sudeste do país. Isto gerou mudanças profundas nos padrões de exploração extrativa e de organização espacial da produção regional, historicamente ancorada na economia primário-exportadora da borracha, e no trabalho familiar e artesanal.
Tais mudanças tiveram grandes repercussões na frágil rede urbana existente até os anos 50, polarizada por Belém, e, secundariamente, por Manaus e São Luís. Estas, além de cidades-capitais das três mais importantes unidades federadas da região (Pará, Amazonas e Maranhão), abrigavam os portos por onde era exportada a produção regional.
Uma das principais repercussões ocorreu a partir dos núcleos urbanos das demais cidades-capitais das unidades federadas que compõe a Amazônia Legal, a saber: Cuiabá, capital de Mato Grosso; Porto Velho, capital de Rondônia; Rio Branco, capital do Acre; Boa Vista, capital de Roraima; Macapá, capital do Amapá; e Palmas, capital de Tocantins. Ao lado das anteriores, elas passaram a ser os nós de uma rede de ação pública-privada, ou seja, pontos de encontro privilegiados entre interesses nacionais-internacionais e regionais-locais. Em outras palavras, segundo Steinberger [1] revela o papel dos núcleos urbanos como pontos de apoio para agentes e atores que exploram atividades ligadas ao setor primário da economia amazônica.
Atualmente, as ligações externas das cidades-capitais, em termos políticos, se fazem diretamente com Brasília, sede do Estado Nacional e, em termos econômicos, com o Sul-Sudeste e com várias partes do mundo. Por outro lado, suas ligações internas estão associadas à influência que exercem sobre os núcleos urbanos menores e o mundo rural que os envolve. Isso sugere que, em prol de um realinhamento nacional-internacional, houve uma fragmentação da rede urbana intra-regional em várias sub-redes.
É incontestável que este realinhamento regional permitiu uma participação mais efetiva na divisão do trabalho, devido à ampliação do volume de bens produzidos e à diversificação da sua estrutura produtiva. Entretanto, também é incontestável que gerou um maior "apetite" explorador e, consequentemente, uma pressão mais intensa sobre os recursos naturais da região, sabidamente portadora de ecossistemas com uma rica biodiversidade. Além disso, pouco contribuiu para melhorar as condições de vida de sua população. Os vazamentos de renda, a presença da pobreza urbana e a deterioração da vida rural atestam tal fato.
Neste contexto, um dos traços mais significativos do presente padrão de exploração dos recursos naturais é o surgimento de novas relações entre o mundo rural e o mundo urbano. Estas se materializam por meio de novas territorialidades, que assumem configurações desejáveis e indesejáveis. Dentre as indesejáveis está a poluição urbana do ar resultante do desmatamento e posteriores queimadas das florestas. Uma análise do processo de urbanização e das atividades econômicas que geram essas territorialidades urbano-rurais é fundamental para se compreender onde e como elas se manifestam.

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